Poucas coisas são tão universais e, ao mesmo tempo, tão pessoais quanto a saúde. No Brasil, existe um sistema que cuida de milhões de vidas todos os dias, muitas vezes de forma silenciosa e heroica: o Sistema Único de Saúde, o nosso SUS.
Tudo sobre o Sistema Único de Saúde vai muito além das consultas em postos de saúde ou das campanhas de vacinação. É um universo que abrange desde o nascimento até os cuidados na terceira idade, passando por emergências, doenças crônicas e até cirurgias complexas.
Este texto é um mergulho profundo nesse sistema que, mesmo diante de desafios imensos, continua de pé. Se você já foi atendido no SUS ou conhece alguém que foi, esta leitura é para você. Se nunca precisou, também. Porque conhecer e valorizar o SUS é proteger um direito que pertence a todos nós.
Breve história do SUS
Para entender o SUS de hoje, é essencial voltar algumas décadas e lembrar como era o Brasil antes dele. Até o fim dos anos 1980, apenas quem contribuía com a Previdência Social tinha acesso aos serviços de saúde. Os demais — milhões de brasileiros — eram deixados à própria sorte, recorrendo à caridade, ao pagamento particular ou simplesmente ficando sem atendimento.
Foi durante os movimentos de redemocratização, após o fim da ditadura militar, que surgiu a ideia de um sistema de saúde universal, gratuito e igualitário. A luta pelo direito à saúde ganhou força e culminou com a Constituição de 1988, que cravou em seu artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado.”
Como nasceu o SUS:
- Pressão de movimentos sociais e sanitaristas durante os anos 70 e 80.
- Inclusão do direito à saúde como cláusula constitucional em 1988.
- Criação e regulamentação do SUS pelas Leis 8.080/90 e 8.142/90.
Referência: Leis Orgânicas da Saúde – Portal do Ministério da Saúde
Princípios e diretrizes do SUS
O SUS não é apenas uma estrutura de hospitais e unidades de saúde. Ele é construído sobre valores profundos, que buscam garantir justiça social, dignidade e equidade. Entre seus princípios doutrinários estão:
- Universalidade: todos têm direito a acessar os serviços de saúde, sem discriminação.
- Integralidade: o cuidado vai do preventivo ao curativo, abrangendo todas as dimensões da saúde.
- Equidade: o SUS distribui recursos conforme a necessidade de cada população, focando mais onde há maior vulnerabilidade.
Além disso, há diretrizes como:
- Descentralização: gestão compartilhada entre municípios, estados e União.
- Participação social: conselhos e conferências de saúde com representantes da sociedade.
- Regionalização e hierarquização: organização em níveis de complexidade (básica, média e alta).
Como esses princípios se aplicam no dia a dia:
- UBSs que atendem qualquer cidadão, mesmo sem plano de saúde.
- Programas que tratam desde uma gripe até doenças raras.
- Atendimento prioritário em regiões e grupos mais vulneráveis.
Serviços oferecidos pelo SUS
Muita gente associa o SUS apenas ao pronto-socorro ou à vacinação, mas o escopo é muito maior. São milhares de procedimentos, serviços e programas, todos gratuitos para o usuário.
Você sabia que o SUS realiza:
- Transplantes de órgãos?
- Tratamento oncológico completo?
- Distribuição de medicamentos de alto custo?
- Atendimento odontológico?
- Saúde mental, com CAPS e assistência psicossocial?
Além disso, o SUS é responsável pela vigilância sanitária (como a da ANVISA), controle de zoonoses, fiscalização da água potável, inspeção de alimentos e muito mais.
Como acessar esses serviços:
- Procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima.
- Leve documentos e, se possível, o cartão do SUS (pode ser feito na hora).
- Realize seu cadastro e siga as orientações da equipe de saúde da família.
Consulte a Cartilha de Serviços do SUS
Problemas enfrentados pelo SUS
Seria injusto e irreal pintar o SUS como perfeito. Ele enfrenta desafios crônicos, como subfinanciamento, má gestão em alguns municípios, falta de insumos e filas demoradas. Esses problemas geram descontentamento e críticas da população — muitas delas legítimas.
Mas é importante lembrar: o problema quase nunca é o SUS em si, mas como ele é financiado e gerido. Apesar de ser um dos sistemas mais robustos do mundo, o Brasil investe menos em saúde pública (em proporção ao PIB) do que muitos países com sistemas universais.
O que você pode fazer:
- Denuncie irregularidades na ouvidoria do SUS.
- Participe de conselhos locais de saúde.
- Cobrar mais investimentos públicos e fiscalização.
Ouvidoria do SUS
A força da atenção básica
A porta de entrada do SUS é a atenção básica, presente nas UBSs e na Estratégia Saúde da Família. É lá que a prevenção acontece, que as doenças são detectadas precocemente e que a comunidade encontra acolhimento constante.
O foco é o vínculo contínuo com a população. Equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, agentes comunitários) conhecem de perto as famílias, seus problemas e seu histórico de saúde.
Como se beneficiar dessa estrutura:
- Cadastre-se na unidade de referência do seu bairro.
- Participe das ações educativas e preventivas.
- Crie vínculo com sua equipe de saúde da família.
Vacinação e controle de epidemias
Em tempos de fake news e negacionismo, o SUS mostra sua relevância com o Programa Nacional de Imunizações (PNI) — referência internacional. O Brasil já erradicou doenças como varíola e poliomielite com campanhas massivas, coordenadas pelo SUS.
Durante a pandemia da COVID-19, mesmo com limitações, o SUS foi essencial para vacinar milhões de brasileiros e conter os impactos da crise sanitária.
Como manter sua vacinação em dia:
- Consulte o calendário no site do Ministério da Saúde.
- Vá à UBS com seu cartão de vacinação.
- Atualize sempre as doses, inclusive para adultos e idosos.
Calendário de Vacinação – Ministério da Saúde
Medicamentos gratuitos e acessíveis
O SUS também facilita o acesso a medicamentos. Pela Assistência Farmacêutica e pelo programa Farmácia Popular, é possível obter medicamentos gratuitos ou com descontos expressivos.
De remédios para pressão e diabetes a antirretrovirais, imunossupressores e antidepressivos — tudo está ao alcance da população, sem distinção.
Passo a passo para retirar medicamentos:
- Pegue a receita médica na UBS.
- Leve a receita e seus documentos até a farmácia do SUS.
- Siga a orientação farmacêutica para o uso correto.
Consulta de medicamentos gratuitos – Saúde.gov.br
Participação social no SUS
Um sistema público só é verdadeiramente democrático se conta com a voz ativa da população. No SUS, isso acontece por meio dos Conselhos de Saúde, que funcionam em níveis municipal, estadual e federal.
Qualquer cidadão pode participar, propor melhorias, fiscalizar recursos e defender o direito coletivo à saúde.
Como fazer parte dessa mudança:
- Informe-se sobre o Conselho de Saúde da sua cidade.
- Participe das reuniões e audiências públicas.
- Envolva-se em movimentos sociais e ONGs da área da saúde.
O SUS é de todos nós
Conhecer tudo sobre o Sistema Único de Saúde é entender que ele é muito mais do que uma rede de hospitais. O SUS é a expressão concreta de um país que acredita que a saúde deve ser um direito e não um privilégio. Ele é o reflexo da solidariedade institucionalizada, do cuidado coletivo.
Sim, há falhas. Mas há também milhões de histórias de vida salvas, de famílias amparadas, de crianças vacinadas, de idosos medicados. O SUS é imperfeito, mas é essencial, e está ao alcance de todos, todos os dias.
Se você já precisou do SUS e foi acolhido, sabe o valor que ele tem. Se ainda não precisou, saiba que ele está ali — para você, para sua mãe, seu filho, seu amigo, seu vizinho.
Defender o SUS é defender a vida. E não há causa mais nobre do que essa.